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Aldeia Kayapó

Aldeia Kayapó - agosto de 2014

Estive recentemente em terra Kayapó. Encontrei-me com o Cacique Raoni, que aos 83 anos continua forte e altivo. Ao ser perguntado se a área que habitam (do porte da Holanda), não seria de muita terra pra pouco índio, o cabra endireitou a espinha, cresceu para riba de seu metro e oitenta e cinco, e explicou: 
-Tem outro jeito de ver: É muita terra, pra pouco índio cuidar, para o homem branco não destruir.
Sobrevoando a área, desde Sinop, no Matogrosso, em direção à reserva ao sul do Xingu, percebemos imensos vazios com terra desmatada para extração da madeira, para o cultivo da soja, e para a pecuária. Ao adentrar a reserva Kayapó, os vazios terminam e o que se vê é a floresta, a mata contínua com seus vastos rios de água limpa. 
A Hidrelétrica de Belo Monte, cujo projeto de engenharia é dos anos 70, se construída hoje na totalidade, com as sete usinas previstas, teria um movimento de água 40% menor do que na ocasião em que foi concebida. Isso porque naquela época a mata estava preservada, portanto, a água que a moveria também. Hoje não, arrancou-se a mata e a água secou. A água, que movimentará a usina, e produzirá energia para o país (também com 40% menos eletricidade do que outrora – isso sem falar na roubalheira, pq isso já são outros quinhentos...), virá, em grande parte, da floresta que foi mantida pelos índios Kayapós. E aquela outra terra que sobrevoei, logo ao lado desta, a terra dos brancos, continuará sendo, como já é, a responsável pela falta d’água hoje no Estado de São Paulo, no Rio, e em outras partes do país. A rede pluvial é interligada, e o que se destrói lá longe, falta em seguida, aqui perto. Não custa apontar o óbvio.

E pra não dizer que não falei das flores, já que citamos Belo Monte, aproveito para tentar uns poucos esclarecimentos. Dizem que hidrelétricas produzem energia limpa, mas o que se sabe é que, na verdade, elas emitem metano em escala portentosa. Acontece por causa da floresta que precisa ser alagada, e não é só no momento inicial, mas por anos e anos seguidos, mesmo quando é retirada a floresta. A água dentro do lago forma camadas, uma mais fria no fundo e outra mais morna em cima. A água do fundo fica sem oxigênio, e tudo o que apodrece ali, vira metano. Grande parte desse metano sai pelas turbinas das usinas. Por estar sob pressão, uma quantidade maior de gás é absorvido pela água, e quando esta passa pela turbina e sai para o ar volátil, com menos pressão, o gás se solta e difunde. Cada tonelada deste gás metano, tem impacto vinte e cinco vezes maior sob o efeito estufa do que teria a mesma quantidade de gás carbônico, fazendo com que o reservatório hidrelétrico aja, assim, como uma grande fábrica de metano.
Se houver investimentos em pesquisas para o uso da energia solar e eólica, como houve para a extração de petróleo e para as hidrelétricas, essas alternativas contemporâneas se tornarão baratas, eficazes e evidentes. Ninguém compreenderá, no futuro, como é que se praticava tanta inconsequência quando já se sabia de maneiras limpas e vantajosas para manter o ar respirável, as aguas fluentes e potáveis, o planeta funcional e com saúde. A erva daninha é sempre a mesma, o conservadorismo: porque mudar se está tão confortável assim? Mas confortável pra quem? Até quando cara pálida? O preço de continuarmos agindo como fizemos há 50, 40, 30 anos está aí, tornando as pessoas infelizes e doentes. 
É bom lembrar que o tamanho das hidrelétricas construídas hoje é muito menor do que aquele necessário quando se iniciou a construção de Itaipu. Evoluiu-se porque houve estudos em busca de uma forma mais eficaz. O mundo de hoje é diferente daquele e há técnicas modernas, inteligentes e adequadas às novas circunstâncias. Porque acham chato falar nisso?

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